segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

Monte Roraima e a Perambulação de Macunaima

O Monte Roraima se apresenta como um importante local para as etnias que vivem em seu entorno (em especial Ingarikó, Macuxi, Taurepang, e Ye'kuana) por ser a morada do Deus Macunaima - demiurgo de suas culturas.




O índios Macuxi contam que Macunaíma percebeu entre os dentes de uma cotia, adormecida de boca aberta, grãos de milho e vestígios de frutas que apenas ela conhecia; saiu, então, a perseguir o pequeno animal e deparou com a árvore Wazacá – a árvore da vida –, em cujos galhos cresciam todos os tipos de plantas cultivadas e silvestres de que os índios se alimentam. Macunaíma resolveu, então, cortar o tronco – Piai – da árvore Wazacá, que pendeu para a direção nordeste. Nessa direção, portanto, teriam caído todas as plantas comestíveis que se encontram até hoje, significativamente nas áreas cobertas de mata.


A perambulação de Macunaima - apresentada em livro de Mário de Andrade - é também contada na tradição oral destes povos. Essa tradição reconhece na geografia do Estado de Roraima os locais sagrados ligados à sua rota mítica.



"Para os indígenas da região, Makunaima tem uma existência real neste mundo. As marcas de sua passagem podem ser percebidas ainda hoje nas diversas realizações que deixou sobre a face da terra: transformou homens, mulheres, formigas e feridas em pedras, folha de plantas em arraia, grãos de areia em mosquito pium, dentre muitas outras obras e artes. Trata-se de um ser que desde menino já era esperto, a quem todos respeitavam pela astúcia de ser capaz de pegar anta no laço; detinha força e poderes mágicos; era capaz de castigar a todos os que se interpunham à realização de seus desejos mais imediatos. Sendo herói de uma cultura ágrafa, Makunaima ganha concretude para os Pemon por meio de um conjunto de narrativas que explica fatos diversos como a ocorrência de fenômenos naturais e de acidentes geográficos, bem como a forma de alguns animais e a existência das constelações visíveis naquela região, mas também como teriam sido criadas algumas fórmulas mágicas de cura, dentre outras coisas, como a escassez de árvores e o fato de existirem poucas frutas na região dos lavrados, em contraste com a maior abundância delas na face norte do Roraima. E foi exatamente por apresentarem essa ambiguidade, de terem sido os introdutores do mal no mundo ao mesmo tempo em que foram os criadores de coisas boas para o homem, que os Makunaima passaram a ser das personagens mais conhecidas do extremo norte da América do Sul".
Fábio Almeida de Carvalho - Makunaima/Makunaíma, antes de Macunaíma.Revista Crioula / Maio de 2009 - nº 5.

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