segunda-feira, 27 de fevereiro de 2012

La Piedra Kueka - lugar sagrado dos índios Pemon

A pedra Kueka Abuela, que ficava anteriomente no Parque Nacional Canaima (Venezuela), foi cedida ilegalmente à Alemanha em 1998. A Pedra do mineral jaspe está declarada como bem de interesse cultural para a Venezuela. Tem um grande significado histórico e ancestral para os pemón. Para estes indígenas a pedra é sua avó imortalizada pelos poderes da natureza.

"Según el mito, Kueka era un joven Pemón Taure Pam que fue a buscar a la joven más bella de la comunidad Macuxi, irrespetando las normas establecidas por Makunaima, dios celoso y estricto Pemón, quien decía que los Pemón se debían casar con los Pemón y los Macuxi con los Macuxi. Luego de casarse, huyeron y tras ellos fue Makunaima, quien les encontró y les dijo: "Awarokuruu ...Amoro aukowamumo Chokroro tatapiche anapo daro..." (¡maldito eres, vivirás siempre abrazado con tu esposa!). Makunaima sopló al viento esta oración y Kueka y su esposa fueron convertidos en piedra. Hoy la piedra es la abuela y abuelo de los Pemón"

Anteriormente as duas pedras ficavam juntas:



Agora La Abuela está em Berlim:



Documentário venezuelano sobre o roubo do patrimônio religioso do povo Pemón.

Parte 01:

 Parte 02:

Monte Roraima e a Perambulação de Macunaima

O Monte Roraima se apresenta como um importante local para as etnias que vivem em seu entorno (em especial Ingarikó, Macuxi, Taurepang, e Ye'kuana) por ser a morada do Deus Macunaima - demiurgo de suas culturas.




O índios Macuxi contam que Macunaíma percebeu entre os dentes de uma cotia, adormecida de boca aberta, grãos de milho e vestígios de frutas que apenas ela conhecia; saiu, então, a perseguir o pequeno animal e deparou com a árvore Wazacá – a árvore da vida –, em cujos galhos cresciam todos os tipos de plantas cultivadas e silvestres de que os índios se alimentam. Macunaíma resolveu, então, cortar o tronco – Piai – da árvore Wazacá, que pendeu para a direção nordeste. Nessa direção, portanto, teriam caído todas as plantas comestíveis que se encontram até hoje, significativamente nas áreas cobertas de mata.


A perambulação de Macunaima - apresentada em livro de Mário de Andrade - é também contada na tradição oral destes povos. Essa tradição reconhece na geografia do Estado de Roraima os locais sagrados ligados à sua rota mítica.



"Para os indígenas da região, Makunaima tem uma existência real neste mundo. As marcas de sua passagem podem ser percebidas ainda hoje nas diversas realizações que deixou sobre a face da terra: transformou homens, mulheres, formigas e feridas em pedras, folha de plantas em arraia, grãos de areia em mosquito pium, dentre muitas outras obras e artes. Trata-se de um ser que desde menino já era esperto, a quem todos respeitavam pela astúcia de ser capaz de pegar anta no laço; detinha força e poderes mágicos; era capaz de castigar a todos os que se interpunham à realização de seus desejos mais imediatos. Sendo herói de uma cultura ágrafa, Makunaima ganha concretude para os Pemon por meio de um conjunto de narrativas que explica fatos diversos como a ocorrência de fenômenos naturais e de acidentes geográficos, bem como a forma de alguns animais e a existência das constelações visíveis naquela região, mas também como teriam sido criadas algumas fórmulas mágicas de cura, dentre outras coisas, como a escassez de árvores e o fato de existirem poucas frutas na região dos lavrados, em contraste com a maior abundância delas na face norte do Roraima. E foi exatamente por apresentarem essa ambiguidade, de terem sido os introdutores do mal no mundo ao mesmo tempo em que foram os criadores de coisas boas para o homem, que os Makunaima passaram a ser das personagens mais conhecidas do extremo norte da América do Sul".
Fábio Almeida de Carvalho - Makunaima/Makunaíma, antes de Macunaíma.Revista Crioula / Maio de 2009 - nº 5.

domingo, 26 de fevereiro de 2012

Feira do Garimpeiro

A feira acontece aos domingos, na Avenida General Ataíde Teive, entre a Avenida São Sebastião e Rua Maria Rodrigues dos Santos, bairro Asa Branca.
26/02/2012
Basicamente são comercializados gêneros alimentícios e produtos regionais.




terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Watunna - narrativas ye'kuana

A ética Ye’kuana e o espírito do empreendimento (fragmento).
Karenina Vieira Andrade (Doutora em Antropologia pela Universidade de Brasília, Instituto Sociedade, População e Natureza – ISPN)

As histórias wätunnä são passadas através das gerações, via de regra oralmente, e há diversos níveis de conhecimento que se pode atingir. Todo indivíduo ye’kuana, homem ou mulher, conhece em alguma medida ao menos as principais histórias wätunnä, aquelas sobre os temas mais debatidos, como o surgimento do mundo e dos seres que nele habitam.

Em geral, as mulheres são as que detêm menor conhecimento sobre wätunnä; mesmo alguns rapazes muito jovens por vezes sabem mais histórias do que mulheres mais velhas, caso estejam interessados em dedicar-se à aprendizagem de wätunnä. Esse processo de aprendizagem, que dura toda a vida, poderá transformar o estudioso em um historiador, um especialista a quem se recorre sempre que é necessário e que fica responsável pelo treino de estudantes da nova geração.

Há diversas regras que regem o mundo de wätunnä e que tornam esse corpus de conhecimento singular. Tudo aquilo que diz respeito ao que podemos entender como cultura, como algo a ser apreendido, adquirido ao longo da vida, está contemplado em wätunnä. Naturalmente, isso exclui o aprendizado daquilo que é estranho à cultura ye’kuana, pois os Ye’kuana procuram aprender cada vez mais sobre a cultura dos “brancos”, seja na escola, seja na operacionalização de tecnologias que acreditam possam ser úteis à sua vida. Wätunnä explica também a existência das diferenças culturais e da dominação tecnológica, que apontam como fator característico dos “brancos”. Por serem os brancos donos dos aparatos tecnológicos, wätunnä não contém ensinamentos sobre como manejá-los, e é por isso que os Ye’kuana precisam adquirir este aprendizado diretamente dos brancos. Para se ter uma idéia, pois, da dimensão de wätunnä, seria como se tentássemos contar toda a história da humanidade desde o surgimento da terra, após o Big Bang, em uma única narrativa, detalhada, que contaria a história de todos os povos e culturas conhecidos.

Há certa aura ritual no processo oral de contar uma história, um protocolo a ser seguido, por diversas razões. Em primeiro lugar, não podemos esquecer a natureza sagrada das histórias, que são narrativas dos acontecimentos ancestrais envolvendo importantes personagens que deixaram lições aos seus descendentes. Sendo assim, há ocasiões adequadas para narrar uma história. Ressalto aqui a existência de três níveis de profundidade das histórias, embora David Guss (1989) afirme serem apenas dois: uma versão mais resumida, com foco no caráter anedótico, e a versão completa, secreta e sagrada, reservada aos rituais. Acrescento mais um nível, ou ainda, subdivido o nível anedótico em dois; de fato, existem versões resumidas das histórias, destinadas ao cotidiano, porém, se há aqui um “resumo do resumo”, este, sim, contado anedoticamente, há uma versão mais completa, ainda que resumida, que também obedece a um protocolo e deve ser contada em ocasiões específicas.

As versões contadas quando do acontecimento de determinados eventos (um acidente ofídico, por exemplo, que coloca toda a comunidade em resguardo até que a vítima saia de perigo) são mais completas que as versões “anedóticas” e mais resumidas que as versões reservadas a rituais, sendo que estas últimas nunca são contadas, mas cantadas. As canções podem ser de dois tipos: a’chudi, cânticos usados para diferentes finalidades, menos complexos e mais difundidos. É comum homens e mulheres mais velhos conhecerem algumas a’chudi, como a destinada a purificar os alimentos a serem ingeridos pela primeira vez por uma criança ou a serem consumidos por uma menina que acaba de ter sua menarca, ou ainda para proteger um recém-nascido. O outro tipo de canção são as ädemi, que efetivamente narram as versões completas de wätunnä e são c(o)antadas em ocasiões especiais, como a festa que comemora a derrubada da mata e plantação de roças novas, ädwaajä edemijödö (ädwaajä = roça), festa que pode durar até quatro dias, durante os quais o cantador entoa a ädemi, que narra detalhadamente, neste caso específico, como os ancestrais ye’kuana plantaram a primeira roça e como fizeram a primeira festa depois do trabalho encerrado, e celebraram a colheita que viria em breve. Por outro lado, os historiadores ye’kuana também narram a história de como tudo isso aconteceu, relatando os eventos principais. Quando afirmo que esta versão narrada é resumida, não significa que sejam omitidos eventos, pois as canções não narram apenas, elas têm um ritmo próprio quase hipnótico, em que o cantor, em monocórdio, descreve eventos, chama por ancestrais ye’kuana, evoca símbolos cosmológicos, tudo isso entremeado com a narrativa, fazendo com que novos acontecimentos sejam seguidos de versos extenuantemente repetidos, como um refrão. Na versão contada, os acontecimentos são narrados de maneira formal e as referências a símbolos cosmológicos muitas vezes estão nas entrelinhas, expressos em formas condensadas cujo significado me escapava.

As versões anedóticas, por sua vez, são como “pílulas” que, simplesmente, são ditas por aqueles que conhecem as histórias porque já ouviram de outros, mas não sabem contálas integralmente, ou quando apenas se deseja responder às perguntas de uma criança curiosa ou diminuir a ignorância da antropóloga recém-chegada sobre os mistérios do mundo ye’kuana. Por que o papo do jacu é vermelho? Porque um dia ele engoliu o fogo que Iudeeke e Shichamöna haviam roubado do sapo e escondido em uma montanha. Por que a superfície da lua é coberta de manchas escuras? Porque ele (lua para os Ye’kuana é um substantivo masculino) tentava enganar a irmã durante a noite, deitando-se em sua rede na escuridão para que não fosse descoberto e, um belo dia, para identificar o culpado, ela sujou as mãos e a vagina com tinta de jenipapo e passou no rosto de lua durante a visita noturna, identificando-o de manhã. Todas essas explicações são retiradas de histórias das quais esses eventos fazem parte. As versões completas são contadas pelos historiadores e aqueles que as ouvem guardam na memória as explicações para as coisas do mundo e os ensinamentos morais retirados delas.

Apesar de serem boas para passar o tempo nas noites monótonas em que as fofocas não rendem, ou para demonstrar ao neófito quão grande é a sua ignorância, para os iniciados essas “pílulas” também exercem uma outra função. Como a madeleine de Marcel, personagem de Proust em Em busca do tempo perdido, as pílulas remetem narrador e ouvinte iniciados às histórias que são velhas conhecidas. Elas os transportam ao momento do passado em que lhes foi revelada uma história wätunnä, reavivam em sua memória o ensinamento dos antigos, às vezes, com uma simples frase. Como diria Lévi-Strauss, as “pílulas” wätunnä são boas para pensar, ou, como disse Basso (1988), são “âncoras”, que evocam imagens, remetem os iniciados a um mundo de significados, de lições morais e códigos de conduta.

Desnecessário dizer o quanto o conhecimento wätunnä é valorizado e respeitado pelos Ye’kuana. O status que pode atingir um renomado historiador é tão alto quanto o de um verdadeiro xamã. Quando me diziam da importância dessas duas personagens em suas vidas, mais de um Ye’kuana comparou o processo de aprendizagem e formação tanto de um historiador quanto de um xamã com o estudo da medicina, seu exemplo por excelência de um árduo caminho de formação dentre os brancos. Para eles, assim como entre os brancos, apenas grandes homens dotados de muita inteligência tornam-se médicos, somente um grande Ye’kuana, de notável inteligência e com muita dedicação, poderá tornar-se um historiador ou xamã. O treinamento de um jovem aprendiz é árduo e há um longo caminho a ser trilhado até que possa ser considerado um verdadeiro xamã. Além da dedicação aos ensinamentos do mestre, o aprendiz deve abrir mão de uma série de coisas de que os Ye’kuana gostam: sal, diversas carnes e mulheres. Mesmo depois de formado, ele viverá uma vida de austeridade.

A "promessa" ye´kuana

A cosmologia ye'kuana tem uma dimensão profética protagonizada pelos xamãs. Além de conhecerem o passado, os xamãs podem ver o futuro, a “promessa Ye’kuana”. E o destino é dramático: “primeiro desaparecerão os xamãs, depois os sábios, depois os cantores, quando o último Ye’kuana morrer a terra queimará, os brancos sofrerão muito porque serão muitos, faltará água, as chuvas cessarão”. Os Ye’kuana encontrarão Wanadi; mas não há “salvação” para todos na “promessa” Ye’kuana. Assim, o xamanismo é a principal referência para o destino coletivo, em outras palavras, a visão do futuro e do destino Ye’kuana estão relacionados às práticas xamânicas.

Para os mais velhos, as mudanças atuais são contingentes às mudanças dos tempos; segundo eles, um certo descuido de resguardos, bem como de certas dietas e uso de pinturas corporais, colaboram para com o aumento das doenças e fragilização dos jovens. Mesmo com uma aparente dose de pessimismo, os problemas atuais confirmam e valorizam as “tradições”, especialmente os xamãs que previram tais mudanças.
Atualmente os Ye’kuana não possuem xamãs em suas comunidades no Brasil, mas existem as parteiras especializadas, cantadores tradicionais e especialistas em plantas mágicas e medicinais. O contato com os seus xamãs, na Venezuela, acontece tanto por meio de visitas como por consultas via radiofonia. Embora contando com uma assistência à saúde permanente em suas comunidades, alguns distúrbios continuam sendo tratados de forma tradicional, com cantos, sopros, usos de plantas, tratamentos estes quase sempre acompanhados por um regime alimentar.


Cosmologia Ye'kuana

Os Ye´kuana concebem o universo composto por dois planos paralelos : caju (o céu) e nono (a terra). Em nono, plano inferior do universo, o sobrenatural fora outrora neutro (ou pelo menos suas manifestações eram desconhecidas pelos habitantes da terra). Então o Sol pai deixou cair três ovos mágicos. Os dois primeiros se abriram e deles saíram Wanadi, um herói cultural mítico, e seu irmão. O terceiro não chegou a se quebrar, mas ficou machucado e deformado. Wanadi então o atirou na floresta. Com essa segunda queda o ovo se abriu e Cajushawa, cheio de ressentimento e de ódio, apareceu na terra e se converteu na manifestação negativa do sobrenatural. Desde então a gente de Cajushawa (os demônios ou odosha) se proliferaram pelo mundo, dominando o reino invisível da terra.

Em contrapartida, Wanadi, a expressão benévola do sobrenatural, depois de ter vivido na terra por um tempo durante o qual lutou contra Cajushawa, deixou a terra nas mãos de sua gente, os Ye´kuana, a quem cabe lutar contra os demônios.

A configuração da terra tem em seu centro um círculo interno de água chamado dama (o mar), que é rodeado por outro círculo, nono (a terra propriamente dita), o qual possui artérias de água, tuna (os rios provenientes do mar). Rodeando a terra há outro círculo donde partem raias inclinadas que são os pilares de sustentação do céu. Este espaço é chamado caju wowaö´ña, literalmente « as patas do céu». Além de suportar o céu, caju wowadö´ña constitui o limite do reino de Cajushawa. As aldeias do leste se dizem que estão aderidas a caju wowadö dawono (a parte inferior de caju wowadö). Na direção leste há inumeras cascatas de difícil acesso que iniciam na terra, correm subterraneamente em caju wowadö´ña e reaparecem no céu em forma de água calma. Quando Cajushawa perseguia Wanadi, não conseguiu atravessar essas cascatas e deve que ficar na terra.

Caju (céu), plano superior do universo, está dividido em oito camadas, que são os reinos dos jöwai. As aldeias de Wanadi e do Sol estão em um lugar inacessível de caju, concentradas em um único local para além do mundo no qual os seres visíveis (os Ye´kuana) e os invisíveis (os demônios de Cajushawa) competem incansavelmente, e o equilíbrio entre as forças positivas e negativas é precário. Habitando esse local, Wanadi está completamente alheio aos problemas da terra.

A geografia do universo e a geografia da maloca são marcadas por uma grande similaridade. Mais que isso, a maloca pode ser compreendida como uma réplica do cosmo: suas partes correspondem a cada uma das divisões significativas do céu e da terra. A annaca (ou círculo interno) corresponde à dama (o mar no centro do mundo). O círculo seguinte que configura a terra (nono) corresponde na maloca à äsa (os departamentos/dormitórios). Nas margens desse segundo círculo se erguem os pilares que sustentam o teto. Os mastros maiores se chamam sirichäne, o que significa literalmente « apoio das estrelas ». Na concepção ye´kuana do universo este espaço corresponde a caju wowadö´nã, ou « patas do céu ». O teto cônico da casa redonda, por sua vez, tem configuração semelhante à representação do plano superior do universo, sendo o ponto culminante a morada de Wanadi e seu pai. Na maloca, há uma janela no teto que se abre para o leste, na direção de Wanadi.

Além dos demônios, odosha, há outra forma através da qual o sobrenatural se manifesta negativamente. Segundo os Ye´kuana, os sistemas de vida (o animal e o vegetal, por exemplo) têm correspondentes invisíveis ou « donos » no mundo invisível. Quando os Ye´kuana afetam as manifestações visíveis desses seres – ao caçar um animal ou derrubar uma árvore, por exemplo – provocam um desequilíbrio no mundo invisível. As forças invisíveis então reagem provocando má sorte, doença ou morte nos agressores. Para amenizar esse problema, lançam mão de ritos antes do uso de determinados produtos da natureza, como frutas silvestres, caças, resinas (por exemplo, a caraña que se usa para pintura corporal) etc. Os produtos são « soprados » a fim de repelir a força sobrenatural que se encontra neles alojada.

Fonte: http://pib.socioambiental.org/pt/povo/yekuana/745

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Variedades e Usos Culturais da Pimenta em Roraima

Pimentas do gênero Capsicum cultivadas em Roraima, Amazônia brasileira. II. Hábitos e formas de uso (fragmento)
Herundino Ribeiro do NASCIMENTO FILHO1, Reinaldo Imbrozio BARBOSA2, Francisco Joaci de Freitas LUZ

OS INDÍGENAS

Dos 180 acessos de pimentas (163 de espécies domesticadas) coletados em Roraima no período de maio/2000 a junho/2001, foram identificados 78 morfotipos que se diferenciavam pela forma, cor e ardência (Barbosa et al., 2002). Destes, 23 foram observados especificamente para etnias indígenas: Wapixana (10), Macuxi (9), Patamona (1), Yanomami (1) e Yekuana (1). Nestas comunidades, os morfotipos predominantes foram malagueta (C. frutescens), murupi (C. chinense) e olho-de-peixe (C. chinense). Devido ao esforço de coleta ter sido mais intenso entre as comunidades Macuxi e Wapichana, este resultado acaba refletindo uma situação muito simplificada dos morfotipos utilizados pelas etnias locais, observando-se principalmente aquelas que vivem nas regiões de vegetação aberta denominadas regionalmente por “lavrado” - savanas/cerrados (ver Barbosa & Miranda, 2005)

A coleta de pimentas nas etnias indígenas presentes no ecossistema de florestas foi muito reduzida devido a problemas de acessibilidade. Todavia, tanto as poucas coletas que obtivemos, quanto os relatos passados, nos dão conta do uso de pimentas nestas localidades como, por exemplo, nos trabalhos de Milliken (1997) entre os Yanomami do oeste de Roraima, e Meggers (1987) nos Waiwai, do sudeste.

Por ocasião das observações nas aldeias do lavrado, foi constatado que, em sua maioria, existia a figura da “pimenteira”. Este termo denomina uma ou mais senhoras (ou famílias) que se dedicam ao cultivo, manipulação e distribuição das pimentas na aldeia e/ou região. Na maior parte das vezes, estas senhoras também se responsabilizam pelo fabrico e comercialização de molhos e pimentas desidratadas/moídas (jiquitaia). Neste caso, entenda-se comercialização como o ato de venda ou troca dentro e fora da aldeia. Não é um papel definido somente pela comunidade, entretanto, estas senhoras (pimenteiras) acabam assumindo esta figura através da leitura que a comunidade faz de seu prazer pessoal no plantio e tratos hortícolas de seu jardim doméstico.

Do ponto de vista cultural, as pimentas podem assumir diferentes formas simbólicas refletidas diretamente em sua forma de uso. Por exemplo, para os Macuxi, situados no centro-norte e nordeste de Roraima, andar no mato com fome e sem pimenta é muito perigoso, pois isto pode levá-los a ser atacados pelos espíritos das matas.

Na Aldeia Maturuca, o professor da escola indígena local (Prof. Sobral André, índio Macuxi) nos informou que naquela localidade as pimentas são usadas para fazer molhos à base de tucupi (escorrido da macaxeira), além do caldo (damorida) e da jiquitaia. A jiquitaia é geralmente preparada primariamente pela secagem da pimenta ao sol ou torrada no forno ou na pedra. Em seguida ela é moída em pilão e, na formulação atual, é adicionada uma quantidade variável de sal, muito embora antes do contato com o “... branco... ” este último ingrediente não existisse. “Também se usa pimentas para espantar os maus espíritos ou feitiços ... espíritos da natureza que nós acreditamos que fazem mal” (Prof. Sobral André, índio Macuxi).

Os benzedores (pajés) utilizam as pimentas para curar doenças que só eles possuem o poder de tirar. Os pajés Macuxi, quando “... atuados ...” (em transe), usam pimentas em seus ritos, mas não conseguem se lembrar de quais e nem de quanto usaram nas composições indicadas aos doentes quando despertam do transe.

Entre os Macuxi, ao se doar uma pimenta in-natura a uma pessoa, é costume nunca entregar diretamente na mão deste, pois isso pode provocar o rompimento da amizade no curto prazo. Para tanto, deixam-se as pimentas em um local onde a pessoa interessada possa ser avisada para que possa pegá-las. “Assim a amizade durará muito ...”.

Entre os Wapichana, segundo Nádia Farage em um pronunciamento realizado na Universidade Federal de Roraima em março de 2002, as pimentas também são usadas pelos familiares dos indivíduos mortos por ataque do “Canaimé” (figura mística). Estes colocam os frutos sobre sua sepultura para que o mesmo não venha completar o serviço. Neste caso, o termo “completar o serviço” possui o significado de comer, através dos animais que lhe representam (tatu, tamanduá, etc), os restos do cadáver.

Além das pimentas domesticadas, os índios de Roraima também utilizam outras espécies (semi-domesticadas e silvestres). A mais interessante, e que nos chamou a atenção, foi o uso de uma pimenta silvestre que nasce naturalmente em serras ou pé-de-serra das regiões do centro-norte e nordeste de Roraima. Para os indígenas, estas pimentas são plantadas em suas roças pelo “Curupira” ou “Ataí-taí”. Por causa desta crença mística, esta pimenta recebe o nome simbólico de “Pimenta do Curupira” ou simplesmente “pimi’ró” (pimenta pequena, na língua Macuxi). Esta espécie silvestre é uma Capsicum chinense que posiciona Roraima como um dos centros de dispersão desta espécie nesta região do extremo norte amazônico (ver Barbosa et al. 2002; 2006).

O uso simbólico e medicinal da pimenta pelos índios do lavrado (cerrado/savana) é também muito amplo. Assim como os Yanomami da floresta, os Macuxi, Wapichana e Taurepang do lavrado também usam a malagueta (C. frutescens) para curar oftalmia, febre e até malária. Usam-na como disciplinadora entre as crianças, quando estas desobedecem ou fazem mal-criação. Para tanto, os pais introduzem um fruto de pimenta malagueta, com a ponta inferior quebrada, no ânus da criança mal-criada para que esta fique obediente e esperta (Tuxaua Antônio, Aldeia do Contão).

Segundo relatos de alguns indígenas Macuxi mais velhos, o ato de introduzir pimentas no ânus também servia para que os adolescentes masculinos se tornassem bravos guerreiros, apurando sua esperteza e corrida. Neste ritual eram usadas lâminas de pedras para se fazer cortes superficiais nos braços, pernas e costas dos adolescentes. Em seguida, uma pasta de macerado de folhas de “curawá” (Agave sp.), juntamente com frutos de pimentas malagueta, era passada sobre os cortes. Segundo os velhos indígenas, neste momento, os adolescentes corriam em volta da casa em grande velocidade e, depois, rumo ao curso d’água mais próximo para aliviar a dor. Esse era um dos ritos de passagem masculino mais usado pelos índios Macuxi do lavrado.

O comércio interétnico, antes da intensificação do contato, usava as pimentas desidratadas e moídas (jiquitaia) como forma de produto de barganha. Este fato foi sempre apontado como uma característica forte dos indígenas da região das serras, que desciam até a região dos lavrados para realizar negócios, trazendo, entre outras coisas, a jiquitaia para trocar por produtos desta região de baixa altitude de Roraima (José Adalberto, índio da Aldeia Enseada, ex-consultor da APIR – Associação dos Povos Indígenas de Roraima).


quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Modo de Fazer a Panela de Barro Macuxi

Neste vídeo é mostrado um resumo do estudo feito pelas jornalistas Andrezza Mariot e Luiza Maura sobre a fabricação tradicional de panelas de barro (argila) pelas mulheres da etnia Macuxi da aldeia da Raposa, em Roraima.

 

Ñaumu - Qual notícia você traz?

Diálogo Cerimonial Yanomami - Forma de Expressão



Diálogo cerimonial ancestral, praticado em várias festas e encontros, como, por exemplo, o ritual do Reahu, quando se trocam bens e notícias. As frases ritmadas são construídas silabicamente, utilizando figuras de retórica. Assim, "um ponto brilhante sob o sol" significa "facão"; "argila" é "coisa colocada sob o sol". Segundo Davi Kopenáwa Yanomami, os Ñaumus, que devem ser interpretados de maneira cordial, têm como finalidade estreitar os laços que unem seu povo.

Índios Yanomami de Roraima
Adaptação e Arranjo: Marlui Miranda
Vocais: Marlui Miranda e Gilberto Gil
Torre: Paulo Santos
Borel: Décio Ramos
CD Ihu Todos os sons de Marlui Miranda

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012

Comunidade do Araçá

Localizada na TI Araçá, município de Amajari, na região dos Lavrados de Roraima. Será implantado, em breve, um Ponto de Cultura na comunidade.

Chegando no Araçá









Rio Uraricuera

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

Mais da casa nova...



Morra de inveja, mãe, das minhas corujas de cabaça... depois compro uma pra você




Esse com a rede é seu quarto, Cícero...

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Casinha...

Até que enfim... daqui uns dias vou me mudar...
A casa é do jeito que eu sonhei, espaço, quintal, árvores, rua calma